sábado, 16 de fevereiro de 2008

ACROSS THE UNIVERSE

Os Beatles talvez sejam uma das referências pops mais influentes do último século. E o cinema faz questão de mostrar o quanto valoriza isso. Ao lado de filmes como YELLOW SUBMARINE e HELP (estrelados pela própria banda) e outros como FEBRE DA JUVENTUDE (que acompanha fãs tentando vê-los em sua primeira visita aos EUA), outras produções - mais recentes, inclusive - se apossam dos significados por eles emitidos em suas canções e letras para criar histórias novas e originais. Assim foi com UMA LIÇÃO DE AMOR, estrelado por Sean Penn e Michelle Pfeiffer e com uma trilha sonora composta apenas por clássicos dos rapazes de Liverpool, agora reinterpretadas numa visão "ano 2000". Mas nenhum foi tão radical quanto ACROSS THE UNIVERSE, um musical original e criativo pontuado apenas por algumas mais belas e envolventes composições de Lennon e McCartney (ops, há uma também do George!). Oferecendo um visual único para muitas destas melodias, o longa ainda consegue proporcionar um divertimento singular e precioso, seja para fãs como também para novatos na "beatlemania".

Jude (o novato e competente Jim Sturgees), filho de mãe solteira, decide deixar Liverpool e seguir para os Estados Unidos tentar a vida e, quem sabe, conhecer o pai, um americano que esteve na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. Ao chegar seus sonhos mais ou menos começam a se realizar. O pai está longe de ser o herói que imaginava - é o zelador de uma universidade, tem outra família e pouco quer saber sobre o filho que desconhecia. Mas estamos em plenos anos 60, época de revoluções e rebeldia, onde todos se conhecem e são amigos. Logo faz amizade com outro jovem, e com ele decide ir para Nova York explorar o mundo! Nesse meio tempo se apaixona pela irmã do amigo (Evan Rachel Wood, de AOS TREZE), que acaba indo morar com eles numa "república hippie". Mas aquele mundinho ideal em que tudo seria possível aos poucos começa a entrar em conflito com a realidade: guerra do Vietnã, Watergate, Kennedy, passeatas, manifestações, política e luta. E eles precisarão se esforçar para encontrar o lugar deles nesta nova sociedade em formação.

E como este processo é feito? Através de "With a Little Help from my Friends", "Helter Skelter", "If I Fell", "Something", "Strawberry Fields Forever", "Happines is a Warm Gun" e tantas outras memoráveis canções. Se muitas delas irão provocar sorrisos inevitáveis até no espectador mais resistente, é praticamente impossível resistir aos momentos mais fortes do filme: "Come Together", "Let it Be", "Hey Jude" e "All You Need is Love". Ou seja: as letras originais foram muito pouco alteradas, e se encaixam perfeitamente na história que está sendo contada, revelando uma sincronia perfeita entre as mensagens dos quatro amigos ingleses e da visão proposta pela diretora Julie Taymor (FRIDA), uma artista de forte apuro estético e muito bom gosto - mesmo que este em alguns instantes cheguem a ofuscar o desenvolvimento do enredo em prol de uma aparência mais, digamos, interessante.

E qual a relação de ACROSS THE UNIVERSE com o universo g? Nada mais óbvio, afinal estamos falando de um musical, não? Mas há outras referências mais diretas, como a personagem Prudence (T.V.Carpio), que ao cantar "I Want to Hold your Hand" revela uma insuspeita paixão lésbica ainda no colegial, mostrando que a música dos Beatles ultrapassa sexo, idade, religião e período histórico. Este filme é um dos poucos do ano passado que certamente ficará na memória dos cinéfilos por um bom tempo, seja como referência ou como espetáculo. Talvez com umas duas ou três sequências musiciais a menos fosse perfeito, mas isso provavelmente seria pedir demais. Indicado ao Oscar de Melhor Figurino, ao Globo de Ouro como Melhor Filme - Comédia ou Musical e ao Grammy como Melhor Trilha Sonora para Cinema, é um entretenimento acima da média que merece ser descoberto e, principalmente, degustado com o maior deleite possível.

Across the Universe, EUA, 2007
(nota 8,5)

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